PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- C.R.P. 31341/5- TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL- RUA ENGENHEIRO ANDRADE JÚNIOR 154- TATUAPÉ SÃO PAULO -SÃO PAULO TELS: 26921958 /93883296
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PSICÓLOGO ANALISA O MEDO E
INTOLERÂNCIA PERANTE A SOLIDÃO É fato muito curioso a contradição de sentimentos em nossos tempos
atuais. Por um lado existe o tão descrito por minha pessoa que é a questão da
timidez, não como se considera vulgarmente, mas um embotamento afetivo que
impede o indivíduo de criar um vinculo ou responsabilidade plena num dado
relacionamento, o tímido sente que perdeu etapas em seu desenvolvimento afetivo
e deseja voltar ao período de adolescência, digamos assim, onde seu intuito é
não se comprometer com nada, apenas colecionar conquistas. O tímido odeia falar
de si próprio, pois teme a crítica alheia e todo tipo de julgamento, assim
sendo procura para não achar, reclama da solidão, mas tudo que fomenta é a
mesma. Já do outro lado observamos pessoas totalmente incapazes de lidar com a
solidão, assim que terminam um relacionamento se sentem totalmente desamparadas
e em pânico, mesmo tendo a noção racional que dita relação há muito estava
falida. É como se precisassem constantemente de uma muleta para praticar todas
as suas atividades pessoais e sociais. Se solitárias se recusam a qualquer
iniciativa pessoal para reformular seu lado afetivo, é como se fosse uma
espécie de greve perante o fato de terem sido preteridas. Como podemos explicar
posturas tão antagônicas perante a mesma problemática? Na verdade o tímido tem
um sério problema de amargura e rancor perante o contato social, a preferência
pela solidão não deixa de ser uma espécie de vingança ou revanche perante o que
sente das etapas perdidas em sua afetividade. O segundo tipo sempre pautou seus
relacionamentos no que a psicanálise chama de objeto reassegurado, uma
dependência de outrem para dirigir sua vida e objetivo. Não preciso nem dizer
que este tipo psicológico tem sérios problemas com as figuras parentais, se
sentindo constantemente órfão e a espera de adoção plena de sua existência no
relacionamento. É fato que o ser humano por razões ontogenéticas é um ser social por
excelência, nunca teria sobrevivido como espécie se não tivesse a habilidade de
se organizar em grupos e dividir tarefas. Mas seria essa a única razão para o
pavor da solidão? Penso
que não, aliás, arrisco um posicionamento que nenhum ser humano em nossos dias
poderia se gabar por estar sozinho, muito pelo contrário, a solidão em nossa
era tem um caráter de teste cujo resultado diz que a pessoa foi reprovada nas
mais vitais áreas pessoais: sexualidade, amizade, autoestima e vaidade pessoal.
É um espelho que reflete um horror pessoal que a pessoa não sabe como se
desvencilhar. Embora todos costumam negar, o fato é que a opinião alheia há
séculos é mais do que um império terrivelmente brutal e autoritário, pensemos
ainda no recente problema do bullyng não apenas nas escolas, mas em quase todos
os ambientes sociais, é como um paradoxo, a sociedade brigando pelos direitos
dos homossexuais, de outras pessoas discriminadas, então o preconceito migra da
questão racial ou sexual, para determinada característica da pessoa, tipo
obesidade, retraimento, usar óculos e coisas do tipo. Afora os graves
transtornos de personalidade, esquizofrenia, depressão e conduta psicótica, a
solidão já pode despontar no topo da lista como o principal problema psíquico
de nossa era. Como disse antes, é a negação total do íntimo do indivíduo, é
como se fosse um palhaço que não consegue fazer rir ninguém, é uma sensação de
derrocada corporal e emocional, o pânico absoluto da exclusão, se sentindo num
país extremamente ameaçador. A solidão moderna não tem mais aquela
função existencial de colocar o indivíduo para reavivar suas lembranças,
condutas e conceitos, não possui mais a função de um despertar de algo
esquecido ou reprimido, muito pelo contrário, a solidão está totalmente
impregnada de conceitos econômicos e sociais, “se estou só, não possuo valor,
caio na depressão, pois meu produto pessoal sequer consta em uma lista”. Como
disse acima, a solidão tira todas as defesas contra o processo de comparação e
competição da sociedade, deixando o indivíduo numa vitrine sem nenhum vidro
sequer. Não há escapatória, todos irão ver o
fracasso afetivo e pessoal do sujeito. É o panoptismo de MICHEL FOUCAULT
aplicado ao plano íntimo. * Sem sombra de dúvida estou discutindo a questão da solidão do ponto de
vista da frustração emocional sentida por determinado indivíduo, e não aquela
solidão benéfica que nos convida a uma reflexão pessoal apurada de nossas
atitudes e pensamentos. Como se poderia explicar a explosão desse fenômeno da
solidão em nossa era? Pela atitude materialista do ser humano, em detrimento de
seu lado afetivo? Sem sombra de dúvida é um fato mais do que sabido por todos,
somos treinados para o vestibular, arrumar emprego, mas jamais fomos treinados
a comentar nossos dissabores e frustrações, e embora tal frase seja mais do que
óbvia penso que é sempre bom a relembrar, pois a cada dia sinto que estamos
ficando cada vez mais estúpidos e retardados no campo pessoal. Mas penso que a
resposta ao incremento da solidão estaria totalmente incompleta se parasse
neste ponto. Fazendo uma análise psicológica e sociológica de nossa era, chego
à conclusão novamente de que o maior dilema interpessoal é o medo da exclusão
em todos os sentidos: econômico, social, pessoal e sexual. A partir dessa
premissa cada grupo social independente do fator político ou econômico começa a
desenvolver certas regras ou códigos no intuito de dissimular o fantasma da
exclusão. A conseqüência de tal processo geralmente é devastadora, pois além do
problema da comparação e inveja fomentadas por tal modelo, se perde a noção
racional e eficaz do problema. Falo isso para explicar novamente a explosão da
solidão, é que o código consciente e inconsciente da sociedade diz que todo
mundo se machucou terrivelmente na questão afetiva algum dia, e a partir de
agora deve se proteger ferozmente, desde se isolar ou colocar exigências
incríveis para mergulhar a fundo numa nova relação, é como um transporte da
questão trabalhista que a cada dia exige um trabalhador muito mais qualificado
e preparado, curioso não acham? O fato é que jamais teremos essa proteção, e
pior, quando todos estão mais do que armados a conseqüência é violência ou
ninguém sair às ruas. O problema moderno da solidão se encaixa perfeitamente
nesta descrição. O único fato que me intriga é como um conceito tão antiquado
(“me machuquei e agora estou armado”) pôde adquirir um pedestal tão expressivo
em nossos dias. Se há vinte anos alguém falasse tal coisa, era visto como uma
pessoa totalmente infantilizada, hoje tal conceito está mais do que genérico,
exatamente por isso, um processo em massa de infantilismo emocional e
psicológico, em função da priorização do lado material e tecnológico. A solidão
em massa é o atestado máximo de como o ser humano se desabituou ao contato
profundo interpessoal e nos relacionamentos em geral. Tenho de discorrer também na similaridade entre solidão e apego. Assim
como o pânico de não conseguir um novo emprego, não conseguir um novo
companheiro. Mas a verdade é que tal similaridade é um tanto falsa. Embora
nenhum ser humano lide bem com a questão da perda, se trata aqui do sentimento
de posse, ou seja, “não abro mais meu lado emocional, pois jamais admiti que
alguém tivesse me deixado”, agora sim posso explicar em definitivo o que disse
antes sobre a proteção contra nova frustração pessoal, o núcleo não é apenas o
medo ou receio, mas esse sentimento de posse internalizado que faz com que o
sujeito entre numa espécie de greve ou protesto contra qualquer nova investida,
o leitor terá de admitir que faz sentido dentro de nossa era totalmente
materialista transportar o conceito de posse para a esfera emocional. Novamente
poderei ser criticado por estar dizendo o óbvio, que ninguém admite perder, o
fato diferencial de nossa era que estou tentando demonstrar é a reprodução
dessa dificuldade de perda dentro de uma esfera totalmente infantilizada como
disse, mas, sobretudo, narcisista (como alguém pode abandonar um objeto tão
especial?). O problema é que dito narcisismo não traz uma autoestima para a
pessoa, muito pelo contrário, sua base é falsa, pois está não apenas no apego,
mas num luto constante que nada mais é que pura morbidez ou thanatos, que torna
a pessoa morta em sua esfera pessoal. O pânico que estou descrevendo neste estudo acerca da solidão, me faz
remeter a outro fenômeno que é conseqüência do primeiro, a solidão a dois. Nada
é mais terrível ou obscuro em tal processo, pois o medo descrito da primeira
retira todo o fator crítico do sujeito perante um relacionamento conturbado ou
fracassado, não tendo mais nenhuma energia seja para uma mudança de postura ou
até uma separação que retiraria o sujeito de sua agonia diária perante uma
relação morta. Mas o leitor aqui irá me indagar a fundo sobre se a solidão a
dois realmente é pior do que não ter nada, ninguém ao redor, sequer uma alma
viva para ver se existimos? A resposta não é tão simples como diz o jargão
popular, pois obviamente vários fatores sempre pesam como filhos, medo, culpa e
coisas do gênero. A solidão individual pesa como disse pelo ar de fracasso ou
derrocada de nosso lado pessoal ou sexual, nos dizendo que não somos um produto
tão procurado pelo mercado, seja por baixa auto-estima, ou qualquer complexo de
inferioridade em relação à nossa imagem corporal ou como pessoa. Mas a solidão a dois é uma etapa mais
avançada, nos diz diariamente que fizemos uma escolha equivocada, mas que agora
pouco podemos fazer para restaurar a situação de satisfação, nos diz ainda que
nosso tempo praticamente já se esgotou, restando à resignação e o mais puro
conformismo, sonhando talvez com um ato de genialidade do parceiro que reative
nossa esfera emocional tão debilitada e faminta. Claro que todo psicólogo
sensato irá tentar demover o paciente de uma conduta tão sinistra ou
masoquista, mas volto a insistir que neste ponto as coisas não são tão simples.
A grande barreira neste tipo de caso é a culpa que citei, mas esta culpa não é
infantilizada, realmente o outro algum dia fez algo muito importante por nós,
acreditamos no mesmo, investimos tudo ou o pouco que possuíamos, sendo que fica
extremamente frustrante ou decepcionante largamos dita relação. Desde os anos 50, diversos estudos apontaram o efeito nocivo da solidão,
um sujeito sem relacionamentos significativos tem uma expectativa de vida menor
daquele que convive num ambiente afetuoso, o sujeito solitário fuma, bebe e
come mais do que a pessoa que está engajada num relacionamento. Mas qual a dificuldade
para resolver tal questão com todos os recursos tecnológicos de nossa era,
sendo que facilmente através do computador, podemos quase que instantaneamente
ingressar em uma comunidade? Embora o processo pareça fácil, não é tão simples
assim. Novamente coloco em foco a noção dos códigos impostos pela sociedade, o
pertencimento exige à submissão perante determinadas regras e metodologia,
assim sendo, a via eletrônica conforta quem já convive em um grupo social. Além
do mais, de nada adiantam aqueles conselhos para a pessoa sair e conhecer
gente, pois a solidão há muito já é algo que poderia ser enquadrada no código
internacional de doenças (Cid), pois a pessoa sente que não tem forças ou ânimo
para reverter tal quadro, e vou além, o sujeito que se encontra solitário,
entra numa espécie de esquizofrenia temporal, achando que seu problema começou
desde a tenra infância, e assim sendo, é uma espécie de maldição que precisa
ser cumprida, ou seja, já se sente absolutamente derrotado para resolver seu
dilema. A solidão poderia ser o sinônimo
máximo da depressão, a única diferença é o modelo tópico, pois a primeira se
estabelece apenas na auto-estima afetiva e sexual do sujeito, e a segunda tem a
característica de contaminar diversas áreas da personalidade. Mas qual seria a suposta resolução de tão intricado problema? Passa talvez por outro jargão popular que diz
que devemos “querer”? Temos de ler tal palavra sempre na perspectiva da mais
pura disciplina, esta é a arte de se começar algo absolutamente desmotivado, e
com o decorrer do processo descobrir que pode ser uma das coisas mais
prazerosas que fazemos, tal preceito vale tanto para ginástica, dieta ou
melhora na auto-estima. O problema é que a solidão é uma grande armadilha,
drenando toda a energia da motivação, uma auto-profecia cumpridora como
mencionei acima, mas é justamente nesse ponto que a força do processo
terapêutico pode ser a peça chave, pois se o paciente consegue se desnudar em
terapia será capaz com toda a certeza de num futuro próximo transpor tal
aprendizado para outras relações sociais, e quebrar de vez com qualquer tipo de
maldição que tenha se imposto. SÃO PAULO, 16 DE NOVEMBRO DE 2010 *Panoptismo foi um conceito
desenvolvido por MICHEL FOUCAULT, um dos maiores intelectuais da FRANÇA no
século vinte, baseado em presídios onde havia uma guarita central e as celas
eram dispostas em círculos, onde o guarda tinha um panorama privilegiado de
todos, e além do mais, se limitava a intimidade do preso, pois todos se
observavam, ele usou este conceito no poder moderno da sociedade de vigiar e
punir seus membros de uma forma dissimulada.